Opinião: Incoerências

 Artigo de opinião por Artur Ribeiro

Li que a candidatura do PS a Valongo solicita a impugnação de um candidato a presidente de uma junta de freguesia, pelo facto de o mesmo estar em mora relativamente ao pagamento à Câmara da licença de rampa da sua habitação.

Não questionando o fundamento desta impugnação, cuja veracidade desconheço, não pude deixar de recordar a situação existente no Porto, com a recandidatura do actual Presidente da Junta de Freguesia da Sé.

Os factos são conhecidos. Aproveitando-se das suas funções, o actual Presidente da Junta de Freguesia da Sé utilizou abusivamente e em interesse próprio dinheiros públicos pertencentes à freguesia a que preside. Em termos práticos, terá obtido um “adiantamento” de cerca de 4.900 euros para fazer face às suas necessidades pessoais, comprometendo-se a repor esse dinheiro futuramente. Esta ilegalidade foi conhecida publicamente pelo facto de ter sido denunciada por outros elementos da Junta, também eleitos pelo PS.. Investigada a situação, que o próprio reconheceu, o Ministério Público decidiu levá-lo a julgamento.

Estamos, não apenas perante uma questão de legalidade mas também e sobretudo perante a uma questão de ética, porque os detentores de cargos públicos não podem servir-se do dinheiro dos contribuintes para fazer face a necessidades pessoais.

Porém, não obstante esta constatação, o PS decidiu recandidatar essa mesma pessoa à Presidência da Junta de Freguesia da Sé! Algo que não credibiliza a política e mostra a incoerência de um partido que num Município procura impugnar um candidato, que, enquanto cidadão, deve à Câmara a taxa de licença de uma rampa, e, num Município vizinho, recandidata uma pessoa que utilizou ilegalmente, e em benefício próprio, dinheiros públicos.

Confrontada com esta recandidatura, a candidata do PS à Câmara Municipal do Porto cala-se e remete qualquer resposta para o líder da Distrital, que por sua vez também assobia para o lado!…

Mas Elisa Ferreira, que diz nada ter a ver com a escolha dos candidatos às freguesias, não pode escamotear que, na propaganda desses mesmos candidatos, consta uma carta por si assinada, que entre outras coisas, diz: “A equipa de candidatos socialistas às Juntas de Freguesia do Porto combina experiência e juventude, continuidade e inovação, mas é constituída por pessoas competentes e trabalhadoras, por pessoas conhecedoras das necessidades da Cidade e de cada uma das suas freguesias”

Por isso, o seu silêncio é não apenas ensurdecedor mas também cúmplice!. E não posso deixar de recordar um episódio passado há quatro anos, com Francisco Assis, o antecessor de Elisa Ferreira. Confrontado, num debate televisivo, a 4 dias das eleições, com a presença na lista do seu partido para a Assembleia Municipal de um candidato que estava acusado por actos de corrupção, imediatamente lhe retirou a confiança política, obrigando-o a sair da lista. E Francisco Assis não era “independente”!

A expressão “fazer contas à moda do Porto” é sinónimo de honestidade, rigor e correcção, atributos de que a Cidade muito justamente se orgulha. A situação da freguesia da Sé que aqui relato, vai, infelizmente, no sentido inverso. E manifesta uma profunda incoerência do PS e de Elisa Ferreira.

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